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Ruthyana é a primeira paraibana a apitar jogo da CBF

"A partida foi muito bem disputada, como eu já esperava". Disse ela

Por Diário do Sertão

08/09/2016 às 14h15

Paraibana apita jogo da CBF

Quando a árbitra Ruthyana Medeiros Camila da Silva trilou o apito pela primeira vez na partida entre Botafogo-PB e São Francisco-BA pela Copa do Brasil de Futebol Feminino, ela iniciou duas histórias: uma que se resolveria em 90 minutos e outra que passou a ficar na eternidade. Isso porque aquele sopro de esperança para dois times que se enfrentavam no Estádio Almeidão, em João Pessoa, também era o de esperança para muitas mulheres que buscam espaço no futebol. Ruthyana, aos 21 anos de idade, foi a primeira árbitra da Paraíba a comandar um jogo organizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

O momento histórico, por sinal, não parou por aí. Além da estreia de uma árbitra no futebol do estado, essa também foi a primeira vez que um trio paraibano de arbitragem, formado apenas por mulheres, foi colocado à disposição para uma partida de futebol em qualquer categoria. A experiente Adriana Basílio (CBF-1), de 38 anos, e a também estreante em jogos CBF, Flavia Renally Costa (CBF-3), de 24 anos, foram as auxiliares do duelo vencido pelo São Francisco-BA por 1 a 0.

– A partida foi muito bem disputada, como eu já esperava. Sei que dei o meu melhor e isso é o que importa para mim. Essa estreia significa um grande passo para a arbitragem paraibana, pois isso vai abrir as portas para que outras mulheres possam chegar a esse patamar também. Espero que incentive as mulheres. O fato de termos um trio agora só de mulheres engradece o futebol do estado para que mais mulheres possam se interessar na arbitragem. Nós treinamos e estudamos igual aos homens – analisou a árbitra.

Ruthyana nasceu em 1995, em Natal, no Rio Grande do Norte, mas aos oito anos foi morar em Várzea, no Seridó paraibano. Aos 15 se mudou para Patos para estudar e acabou fixando residência até hoje na Morada do Sol. Amante do futebol desde pequena, foi justamente na terra de Nairon Barreto que Ruthyana, aos 17 anos de idade, ingressou na Liga Patoense de Futebol. Em 2014, aproveitou um curso de arbitragem realizado no Sertão pela Federação Paraibana de Futebol (FPF) e se formou como árbitra.

– Meu gosto pela arbitragem teve muita influência do meu marido Julio César, que trabalha atualmente como auxiliar no quadro local. Tive minhas primeiras oportunidades com a Liga Patoense. Um dia eu acompanhei meu marido em uma partida de um campeonato local e o árbitro dessa partida faltou. E fui eu que trabalhei em seu lugar. Depois disso nunca mais deixei a arbitragem. Tive a chance de fazer um curso de arbitragem aqui em Patos. Antes os cursos da FPF eram apenas em João Pessoa, mas Miguel Félix (presidente da Comissão de Arbitragem da Paraíba em 2014) organizou um aqui no Sertão e eu fiz. Me formei e no ano passado fui indicada para entrar no quadro nacional para o futebol feminino. Agora quero me aprimorar cada vez mais e honrar com essa confiança que a atual comissão tem em mim – comentou Ruthyana.

Bastante jovem, Ruthyana tem vários sonhos a perseguir ainda na arbitragem. Um deles é conseguir ficar apta para apitar jogos também do futebol profissional masculino, tanto no Campeonato Paraibano, quanto nas competições nacionais. Para isso, ela precisa passar nos testes físicos que a CBF realiza nos mesmos padrões da Fifa. Como as provas exigem preparo e nível físico semelhante a de atletas de alto rendimento do futebol mundial masculino, a dificuldade para as mulheres atingirem a aprovação é flagrante.

Atualmente, no Brasil, apenas a pernambucana Deborah Cecília Correia, que fez história esse ano ao comandar o confronto Murici x Campinense pela Série D do Brasileiro, pode apitar jogos dos homens. Desde 2007, quando Silvia Regina se aposentou, nenhuma mulher apitava em competições profissionais nacionais masculinas.

– Realmente o teste físico para o futebol masculino é bem complicado para nós mulheres. Ano passado fiz o feminino e passei, mas o dos homens eu reprovei. Estou treinando e me preparando para os testes deste ano. No que depender de mim quero bastante participar de jogos do futebol masculino tanto no meu estado, quanto em competições nacionais – comentou a árbitra.

Aos 21 anos, Ruthyana Medeiros Camila da Silva é mais uma mulher a fazer história e a fazer soar o apito de aviso de que as mulheres querem e vão galgar espaços no futebol e em qualquer lugar.

Mulheres no apito
Apesar do ineditismo no futebol paraibano, a arbitragem feminina não chega a ser tão recente no país. Em 1967 Léa Campos se formou árbitra de futebol pela Federação Mineira de Futebol. Seu diploma, no entanto, foi bloqueado pela então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) que seguia o decreto-lei nº 3.199, em seu art. 54, de 1941, que dispunha que “às mulheres não se permitirão a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Com o país estando em plena Ditadura Militar, Léa foi acusada de subversão e, segundo ela, chegou a ser levada por 15 vezes ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).

Após muita luta e bastante insistência em busca do seu sonho, Léa conseguiu, em 1971, uma audiência com o ditador da época, Emílio Garrastazu Médici, que pediu para que João Havelange, presidente da CBD e antigo algoz da árbitra, autorizasse a sua participação num torneio mundial de futebol feminino no México. Com a liberação, Léa pôde seguir sua carreira e apitou vários jogos no Brasil e no Mundo.

Na Paraíba, a arbitragem feminina não é das mais raras. Pelo menos em outro futebol. O de salão. Atualmente duas paraibanas integram o quadro da Fifa: Renata Leite e Alane Jussara. Já no futebol de campo, Ruthyana é a única da Paraíba a integrar os quadros estadual e nacional.

Equipe @vozdatorcida

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