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Revelado pelo Flamengo, ídolo do Brasiliense vende gás e água

“Entrar no ramo de gás não é algo que eu planejei. Simplesmente aconteceu”.

Por Diário do Sertão

23/09/2017 às 16h49

Artilheiro do Jacaré na Série A do Brasileirão, gerencia o próprio negócio

Em 16 anos de carreira no futebol profissional, o ex-atacante Igor, 36 anos, ouviu centenas de vezes uma das principais cobranças dos técnicos: “Nas partidas, você tem que dar o gás”. Ao repetirem a expressão, os treinadores exigem que seus jogadores não percam a disposição em campo. “Até hoje não posso deixar o gás acabar”, brincou o ex-atleta revelado pelo Flamengo e ídolo do Brasiliense, cujo ganha-pão atualmente é a venda de botijões do combustível e de galões de água no Distrito Federal.

“Entrar no ramo de gás não é algo que eu planejei. Simplesmente aconteceu”, contou ao Metrópoles. Em junho de 2014, dois meses após levantar a inédita taça da Copa Verde pelo Brasília, Igor começou a se aposentar gradativamente. O ex-atacante, com passagens por São Caetano, Avaí e Coritiba, sequer percebeu que se despedia do futebol, aos 33 anos, “de modo precoce”. “Fui perdendo o interesse, deixando de me dedicar, naturalmente. Quando notei, já estava aposentado.”

Naquele momento, a vida após os últimos passes e dribles o assombrou. Igor não havia projetado o sustento pós-aposentadoria. Surgiu, então, a oportunidade de adquirir uma loja de gás e água. Ele não titubeou. Em três meses, a vida de atleta deu lugar à de entregador.

Engana-se quem pensa que o ex-atleta apenas se acomodou atrás de uma mesa, de onde não faz mais que dar ordens aos funcionários. “Também faço entregas, pego no batente. Principalmente, quando a demanda fica grande”, afirma. Para isso, ele usa uma picape de pequeno porte ou uma moto.

No trabalho, o ídolo do Brasiliense mantém a reputação que construiu em campo, a de bom moço: recebeu cartão vermelho apenas uma vez, em 16 anos. Por engano. “Em uma falta contra nós, o Deda (ex-jogador do Jacaré) empurrou um adversário na barreira. O juiz pensou que fui eu. Fiquei chateado demais naquele dia”, recordou. A expulsão ocorreu em 21 de maio de 2004, na vitória do Brasiliense por 3 x 2 contra o Avaí, no Estádio Serejão (Taguatinga), pela quinta rodada da Série B do Campeonato Brasileiro.

Quem confirma o temperamento calmo de Igor é um dos entregadores da loja, André Luiz Romão. “Ele é um patrão paciente, tranquilo. Não estressa com os funcionários”, elogia.

Igor comemora gol contra o Palmeiras, pela Série A do Campeonato Brasileiro de 2005

Idolatria
Igor chegou ao Flamengo em 1997, aos 16 anos, quando iniciou a carreira. Galgou da categoria juvenil — na qual jogou com Adriano Imperador — à profissional do clube, mas não venceu a concorrência de Liédson e Fábio Baiano no ataque rubro-negro. Desembarcou no Brasiliense, por empréstimo, em 2002. A intenção da diretoria rubro-negra, segundo ele, era dispensá-lo, tanto que os cartolas viram no Jacaré, à época recém-fundado e desconhecido no cenário nacional, a chance perfeita para se livrar do jovem de 21 anos.

“Fiquei com medo, ninguém conhecia o Brasiliense, não tinha badalação. Mas foi uma das melhores decisões da minha vida”, recordou o ex-atacante, que desembarcou no clube candango em 2002, logo após a equipe alcançar a façanha de chegar à final da Copa do Brasil — perdeu a decisão para o Corinthians.

Em 2004, Igor assumiu a titularidade no Brasiliense, que, à época, quatro anos após a fundação, atraía os holofotes no futebol nacional. O clube carimbou vaga para a elite do Brasileirão ao conquistar a Série B daquele ano e, em 2005, incomodou os principais times do país.

O ex-atacante terminou aquela edição como artilheiro da equipe, com 11 gols. A principal vítima dele? Os clubes paulistas: balançou a rede 10 vezes contra Palmeiras (três), São Paulo (três), Ponte Preta, São Caetano, Corinthians e Santos.

Velocidade
A artilharia na equipe não ocorreu por acaso, segundo o ex-zagueiro Jairo, companheiro de Igor no Jacaré. “Ele era muito novo e rápido, aparecia nas costas dos defensores com muita velocidade para marcar os gols”, descreveu o ex-jogador.

O Brasiliense caiu para a Série B naquele ano, mas, ainda assim, o ex-atacante marcou o torcedor. “Uma vez eu estava saindo de um supermercado quando um morador de rua, aparentemente muito embriagado, me abordou e perguntou se eu era atacante do Brasiliense”, narrou Igor. “Brinquei com minha mulher e disse: ‘Sou tão famoso que o homem não sabe quem é ele mesmo, mas se lembra de mim’”, contou.

Em 2006, Igor se transferiu para o São Caetano. Ele defendeu também o Avaí, Coritiba, três clubes do Irã — Zob Ahan, Aluminium Hormozgan e Rah Ahan — e o Brasília (onde encerrou a carreira). Mas em nenhum deles repetiu a fase goleadora do Brasiliense.

Além de se identificar com o Jacaré, o ex-jogador, que nasceu no município de Muriaé (MG), criou raízes na cidade: em 2014, escolheu Brasília para morar com a mulher e as duas filhas.

Quem é ele?
Nome: Igor José Marigo de Castro
Nascimento: 25 de agosto de 1981 (36 anos)
Local: Muriaé (MG)
Posição: Atacante
Altura: 1,74 m
Peso: 70 kg
Clubes anteriores: Flamengo (2002), CFZ-DF (2002 e 2003), Brasiliense (2004 e 2005), São Caetano (2006), Avaí (2006) e Coritiba (2007), Zob Ahan-IRÃ (2008-2011), Aluminium Hormozgan-IRÃ (2012), Rah Ahan (2012-2013) e Brasília (2014)
Títulos: Brasileiro da Série B de 2004 e Candangão (2004 e 2005), pelo Brasiliense; Brasileiro da Série B de 2007, pelo Coritiba; Copa do Irã (2008/2009), pelo Zob Ahan; e Copa Verde 2014, pelo Brasília

Metrópoles

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