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Balanço da Copa: bom futebol e ‘fantastic people’ contrastam com falhas nas arenas

Nem tanto ao céu, como os organizadores esperavam, nem tanto ao inferno, como muitos pessimistas previam. A Copa do Mundo do Brasil começou com um certo ceticismo por parte da mídia nacional e internacional, principalmente por conta dos atrasos nas preparações e da iminência de greves e protestos. Cinco dias após o início da competição, […]

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17/06/2014 às 11h31

Enormes filas se formaram em frente ao estádio Mané Garrinha, no final de semana (Foto: imprensa)

Nem tanto ao céu, como os organizadores esperavam, nem tanto ao inferno, como muitos pessimistas previam. A Copa do Mundo do Brasil começou com um certo ceticismo por parte da mídia nacional e internacional, principalmente por conta dos atrasos nas preparações e da iminência de greves e protestos. Cinco dias após o início da competição, a primeira rodada fluiu com alguns problemas de organização, mas sem que o maior espetáculo do futebol fosse afetado.

Com todos os estádios "estreados", já foi possível perceber algumas dificuldades em comum. A primeira delas sendo um velho problema brasileiro, principalmente em lugares com uma grande concentração de pessoas: a internet e o sinal de 3G. Antes da Copa, o "padrão" nas arquibancadas do Brasil era não se conseguir utilizar o 3G pela maior parte em que elas estavam povoadas. Durante o Mundial, a melhora foi nítida, e os torcedores até têm conseguido mandar as famosas selfies para as redes sociais – mas a instabilidade do sinal ainda é notável.

Para os jornalistas, em algumas arenas, a conexão wifi já tem sido suficiente para trabalhar. Nas em que o sinal de internet sem fio era instável, restou apelar para a rede cabeada, que tem funcionado muito bem nos 12 estádios, segundo apurou a BBC Brasil.

O segundo grande desafio desta Copa do Mundo no Brasil tem sido enfrentar o trânsito em algumas das cidades-sede. Em capitais onde o congestionamento já é frequente, como Salvador e Manaus, por exemplo, os dias de jogos foram um pouco caóticos, e os torcedores que tentavam ir de carro à Fonte Nova e à Arena Amazônia, respectivamente, sentiram na pele os problemas de mobilidade urbana das duas cidades.

Já dentro do estádio, a grande reclamação é com relação aos voluntários. Todos muito elogiados pela educação e prestatividade, mas criticados principalmente por não saberem passar informações básicas – localização de banheiros, bares, assentos, etc. Se a pergunta vem em inglês, é ainda mais difícil conseguir uma resposta – os voluntários bilíngues ainda são uma raridade nas arenas.

Alguns desses problemas são explicados pela demora na entrega dos estádios. Segundo a Fifa, em coletiva de imprensa realizada um dia depois da abertura do Mundial, a entidade está preparada para lidar com esses desafios, que tendem a ser maiores nos estádios que estão sendo utilizados para valer pela primeira vez durante a Copa – as seis arenas já testadas na Copa das Confederações já não teriam os mesmos problemas.

Protestos

Os incidentes mais preocupantes mesmo neste início de Copa dizem respeito aos enfrentamentos entre manifestantes e policiais, que têm aplicado mão dura contra os protestos – apesar de estarem ocorrendo em números bem menores do que os de junho do ano passado. No primeiro deles durante o Mundial, na manhã da abertura do torneio, em São Paulo, duas jornalistas da CNN foram feridas pelo estilhaço de uma bomba de efeito moral disparada pela polícia militar. A manifestação tinha pouco mais de 200 pessoas e ficou longe de se aproximar das dependências da Arena Corinthians, em Itaquera.

Em outra manifestação, desta vez no Rio de Janeiro, no último domingo, houve mais confronto entre manifestantes e PMs, que usaram bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar os cerca de 150 que estavam protestando nas ruas próximas ao Maracanã. O que mais chamou a atenção foi que um policial chegou a descer do carro e dar tiros para o alto com uma arma de fogo – ele estava passando pelo local quando viu a manifestação e decidiu agir.

Segundo a Polícia do Rio, o próprio oficial se apresentou voluntariamente admitindo o uso da arma e agora será aberta uma sindicância para determinar se houve irregularidade na situação.

O que deu errado

O grande teste brasileiro de organização nesta Copa começou no dia 12 de junho, com a abertura no estádio popularmente conhecido como Itaquerão, em São Paulo. Lá houve falha dos geradores de energia no primeiro tempo do jogo, mas nada que afetasse efetivamente o bom andamento do jogo. A grande reclamação ficou por conta da falta de comida nos restaurantes e bares.

Na sequência, o jogo em Natal entre México e Camarões: estava tudo pronto para o pontapé inicial, com exceção do próprio estádio, que finalizou seus 10 mil assentos temporários (arquibancadas móveis) em cima da hora, sem que os bombeiros conseguissem emitir o alvará que liberaria os lugares para serem utilizados. Segundo o COL (Comitê Organizador Local), 100 cadeiras acabaram interditadas por questões de segurança, e os torcedores tiveram que ser realocados.

Além disso, a chuva forte que castigou Natal nos últimos dias deixou a cidade em estado de calamidade pública e dificultou o acesso à arena – o próprio entorno dela ficou envolto em uma grande poça de água no primeiro jogo. Na última segunda-feira, porém, Gana e Estados Unidos jogaram por lá em condições climáticas bem mais favoráveis.

Salvador recebeu dois dos melhores jogos de futebol da Copa até aqui: Espanha 1 x 5 Holanda e Alemanha 4 x 0 Portugal. O grande problema da cidade, no entanto, foi para chegar ao estádio. Sem feriados decretados, o trânsito de Salvador ficou caótico nos dias dos dois jogos e torcedores relataram que demoraram 1h30 para chegar do Rio Vermelho (região mais turística da cidade) até a Fonte Nova.

Outra cidade que sofreu com o trânsito foi Manaus, onde Itália e Inglaterra fizeram outro jogo de grande interesse no sábado. Uma das equipes da BBC que chegava para o jogo com três horas de antecedência, precisou desviar do caminho principal para a Arena da Amazônia, percorrendo 2 km em 40 minutos na tentativa de fugir do congestionamento. Houve muita gente que foi desistindo no caminho para ir a pé.

Em Brasília, o problema foi na logística da entrada do estádio. Muitas filas se acumularam na revista e na checagem dos ingressos e, faltando menos de 10 minutos para o início do jogo, o correspondente da BBC Brasil João Fellet relata que viu milhares de pessoas ainda esperando para entrar. Muitos deles só conseguiram se acomodar no Mané Garrincha quando o jogo entre Suíça e Equador já havia começado.

Os inconvenientes comuns a alguns dos estádios foram com relação à conexão de internet e ao serviço dos voluntários. No Maracanã (RJ), Mané Garrincha (DF), Itaquerão (SP) e Arena da Baixada (PR), houve reclamações quanto a oscilações do 3G e do wifi fornecido para a imprensa. Já em Recife, Manaus, Belo Horizonte e de novo São Paulo, houve críticas aos voluntários, por não saberem dar informações corretamente e/ou não falarem inglês.

A primeira grande "gafe" da Copa ficou para Porto Alegre. Uma falha técnica impediu a execução dos hinos de França e Honduras no Beira-Rio, e o secretário da Fifa, Jérôme Valcke, chegou a emitir um comunicado às federações dos dois países com um pedido de desculpas formal.

O melhor até agora

Se fora dos gramados ainda há problemas a serem resolvidos, dentro deles o espetáculo tem sido garantido. A primeira rodada da Copa do Mundo chega ao fim nesta terça-feira após jogos emocionantes, muitas goleadas e, por enquanto, somente um 0 a 0, entre Irã e Nigéria.

Com direito a uma goleada surpreendente de 5 a 1 da Holanda sobre a Espanha, na reedição da final do Mundial passado, e a um jogo de tirar o fôlego entre Itália e Inglaterra – com os italianos vencendo por 2 a 1 -, passando por uma vitória inesperada da Costa Rica por 3 a 1 sobre os bicampeões mundiais uruguaios e um resultado conquistado no último segundo do cronômetro pela Suíça contra o Equador (2 a 1) – já está se falando que a "Copa das Copas" prometida pelos governantes brasileiros está acontecendo mesmo dentro das quatro linhas.

Fora delas, a hospitalidade dos brasileiros tem garantido a satisfação dos turistas, que estão aproveitando para viver uma "grande festa" na Copa do Mundo no Brasil. A BBC Brasil conversou com croatas, ingleses, mexicanos, argentinos e tantos outros estrangeiros – quando perguntados se estavam gostando do Brasil, a respostas tinha sempre algo em comum: "Fantastic people" (povo fantástico).

Fonte: BBC Brasil 

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