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Lutador sequestrado e extorquido por PMs deixa o Brasil com medo

Segundo Jason 'Jay' Lee, fator decisivo para a mudança foi uma segunda visita 'surpresa' da Polícia Militar em sua casa

Por Campelo Sousa

29/07/2016 às 13h20

Jay Lee relatou ter sido sequestrado por homens fardados quando voltava de competição em Resende (Foto: Reprodução Facebook)

O atleta de jiu-jitsu neozelandês Jason “Jay” Lee deixou o Brasil junto com a namorada Laura McQuillan nesta quinta-feira após sofrer um sequestro relâmpago e ser extorquido por dois policiais militares no último sábado em Duque de Caxias, no Rio. O casal agradeceu as mensagens de apoio, mas disse que prefere não se manifestar. Em sua conta no Twitter, Jay anunciou que os dois chegaram “a salvo” em Toronto, no Canadá.

Em entrevista ao jornal da Nova Zelândia “Stuff”, Jay contou que o que motivou a deixar o país foi uma segunda visita da polícia em sua casa. “O ímpeto para que nós deixássemos o país foi quando a PM apareceu na nossa casa novamente pouco antes de meia noite. Eles tinham um documento que confirmava o que nós temíamos: que nossos dados tinham sido passados da Polícia Civil para a Polícia Militar”, disse Jay.

Em seu Twitter, Laura contou que o secretário José Mario Beltrame pediu que ela publicasse uma imagem de um documento que explica que em uma das tais visitas, os policiais eram da Corregedoria da Polícia Militar, que estavam investigando o caso e, inclusive, o motivo de agentes terem aparecido sem aviso na residência do casal.

O lutador já tinha publicado no Twitter que policiais militares estavam batendo à sua porta e que ele estava ligando para sua embaixada. “Eu não deixei que eles entrassem, liguei para a minha embaixada e estou esperando a Polícia Civil”, disse. “A Polícia Civil havia me garantido que a PM não teria acesso aos meu dados”, publicou ele na ocasião.

No fim da tarde desta terça-feira, a Justiça decretou a prisão preventiva dos cabos Fabio da Costa Barbosa e Anderson Nunes Franco, agentes do Batalhão de Policiamento de Vias Expressas (BPVE), são acusados de exigir cerca de R$ 2 mil de suborno de Jay em uma blitz.

Na ocasião, o atleta voltava de uma competição em Resende, foi parado em uma blitz, e os agentes disseram que ele não poderia dirigir sem passaporte. “Eu sei que é mentira. A companhia que alugou para mim não mencionou isso em nenhum momento”, afirmou o lutador.

De acordo com Jay, os homens o fizeram rodar por diversos caixas eletrônicos após exigirem cerca de R$ 2 mil de suborno porque ele estava dirigindo sem o passaporte. Em um desabafo com amigos no Facebook, o atleta comentou: “Os policiais podem fazer o que quiserem por aqui”.

“Fui sequestrado no Brasil. Não por uns caras quaisquer, mas por policiais fardados. Fui ameaçado ser preso caso não entrasse no carro deles e os acompanhasse a vários caixas eletrônicos para tirar dinheiro para um suborno”, escreveu Jay em sua página no Facebook.

Jay prestou queixa na Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (DEAT) no último sábado. De acordo com a Polícia Civil, o caso está sendo apurado. “Não sei ao certo o que é mais deprimente, o fato dessas coisas estarem acontecendo com estrangeiros perto dos Jogos Olímpicos ou o fato de os brasileiros terem de viver em uma sociedade que permita que isso aconteça diariamente”, refletiu o atleta.

Condutores habilitados em países estrangeiros podem dirigir no Brasil, caso regulares, se seus países forem amparados por uma convenção internacional, o que é o caso da Nova Zelândia. Segundo o Detran, depois de 180 dias no país, o indivíduo deve passar por exames físicos e psicológicos e passar a portar a Carteira Nacional de Habilitação brasileira. Não há menção de passaporte.

O atleta morava no Brasil há cerca de um ano para treinar o jiu-jitsu brasileiro, tido como o melhor do mundo. A reportagem procurou o Consulado Nacional da Nova Zelândia, que informou que não iria se manifestar por questões de segurança do atleta. Em nota, a PM informou que “não tolera desvios de conduta e atos como esse entristecem os quase 50 mil policiais militares honestos que combatem o crime diariamente”.

O Dia

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